quinta-feira, 5 de abril de 2007

Círculo Vicioso


Flávio tinha dezoito anos de idade e estava numa reunião da seita dos Meninos do Demo de Tatuapé. Tinha acabado de vender a alma ao tinhoso que apareceu em meio ao transe e anunciou: - Serás rico e terás a mulher que desejar, bastando estalar os dedos. Mas preste atenção: um dia venho cobrar.
Vinte e dois anos se passaram. Era dia 23 de março de 2007. Tinha quarenta anos e era compulsivo por sexo, não resistia a uma boceta.
Acordou com o barulho do despertador. Seis horas. Trabalhou e no final do dia se preparou para um encontro em seu apartamento. Contratara uma puta. Estava cansado das mulheres certinhas, queria depravação. A campainha tocou. Era uma loura estonteante com um par de seios que saltava da blusa. –Olá...!
Ele saltou de boca no decote da moça e não viu mais nada. Literalmente. Acordou no dia seguinte com o ânus dolorido. Tentou lembrar do ocorrido, mas não deu. A última coisa que tinha na mente eram os seios em sua boca gulosa. Olhou o relógio: 6 horas. Mas por que o relógio despertou? Era sábado. Ligou para informações e levou um choque: Ainda era sexta-feira! Tinha algo errado.
O trabalho se repetiu e a noite também. Dez dias se passaram,
todos iguais. Seu ânus já estava em carne viva.
No décimo primeiro dia ele acordou mais tarde, o relógio não despertou. -Será? Correu para o telefone. -Alô. Informações?
-Sim. Em que posso ajudá-lo?
-Por favor: que dia é hoje?
-Sábado senhor. Dia 24 de março. Ele deu um grito de satisfação. Correu ao banheiro para se lavar. O telefone tocou novamente. -Alô.
-Flávio?
-Eu mesmo. Quem fala?
-Lembra de mim? O quarto se encheu de um aroma de enxofre. Eu disse que viria receber um dia.
-Ai....
-Calma. O inferno está lotado. Você deu sorte. Não posso mais levar almas até o ano que vem quando teremos uma reforma por lá.
-Mas
andou por aqui esses dias...
-Sim. Eu cobro as dívidas assim. Uma enrabada e deixo a vítima em paz.
-Uma? Foram dez...Suponho. Estou todo deflorado.
-Eu tenho culpa se teu rabo vicia xará?


Me Morte

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obs.: A expressão xará é uma homenagem ao poema "Xará Demônio" de Mão Branca, assim como o conto, que nasceu inspirado nele.


Poema de meu amigo Mão Branca que serviu de inspiração ao conto "Círculo Vicioso":

Xará demônio



Na encruzilhada

Entre o rio e a estrada

Contratei o demônio

Que sabia meu nome



Falei: xará,

Que tal deixar meu rabo em paz?



Sorriu inocente

Inebriou-me a mente

Com sua bela balela

Esclareceu-me singelo



Falou: xará,

Teu rabo já é meu há tempos


Mão Branca

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