quinta-feira, 3 de maio de 2007

TRATAMENTO DE CHOQUE (Um conto feito a dez mãos)


(Por Me Morte, Meu nome é , Flávia, Sacerdote e Alessandra)


Que comunidade idiota aquela! Poucos se salvavam. A hipocrisia reinava. Uma seda aqui, uma seda ali. O que antes era título de extravagância de um menino chamado Emanuel, virou rasgação ferrenha. O ruim não era lido, também não dependia da leitura para as considerações, era caso de autoria. Dependendo do autor até as críticas eram inteligentes. Nos casos omissos, silêncio. Era assim que eu via aquele Bar. Um despropósito. Um desafio. Eu, idolatrado por todos, paparicado, endeusado, daria um jeito naquilo. Era um reinado precisando de Rei. Ali só tinha escória. A começar do moderador, moderador... Pois sim, parecia mais um fugitivo da guerra do Paraguai. Só aparecia para dizer merdas e mostrar aquela foto de peito nu assemelhando-se ao nosso velho e bom Tarzan.
Mas, espera um pouco: Era moderada. Eu contava com minha inteligência para ser aceito. Seria fácil. Como roubar doce de criança. Adicionei. Como demorava! O mentecapto devia estar dormindo. Já se passara 10 horas e não tinha sido aceito ainda. Finalmente entrei, vinte e quatro horas depois. Bom, agora era questão de postar minhas pérolas. A comunidade estava precisando de bons textos. Eu ia esfregar na cara daqueles incultos como se faz literatura. Tinha visto por ali uma puta depravada despejando impropérios batizados de poesia. Ia começar por ela. Lugar de vagabunda é no lixo. Abri um tópico e deixei um lindo poema, uma obra prima. Dizia assim:

TestamentoPor tudo aquilo que me foi cobrado
Aqui se vai o destino que
Chamei de pássaro,
O sonho que achei ser de todos
Por tudo aquilo que me foi negado:
Aqui se vai o amor que
Chamei de meu
Trata-se de uma despedida informal
Para os lírios,
A vontade de ter você do meu lado
Para as orquídeas,
Seus braços em volta do meu pescoço
Para as tulipas,
A lembrança de um dia inteiro com você
Para as margaridas,
O medo de não mais te ver
Caso o mundo cale minha voz,
Meus olhos vão gritar
A beleza de ser feliz só por ser.

O primeiro comentário que recebi foi de um idiota, cujo texto eu tinha lido assim que fui aceito naquele antro literário. Lixo! Além de não criticar o meu poema, veio dizendo: “Não chegue assim postando um poema, comente primeiro alguma coisa, que depois alguém comenta o seu”. Já não fui com a cara dele. O segundo veio corrigindo, dizendo que era melhor se eu utilizasse "ao meu lado". Porra! O poema é meu, eu faço o que quiser com ele. Faço Letras e decidi que vai ficar "do meu lado" e pronto. O terceiro apenas escreveu: "Lixo". Tudo bem, opinião dele, mas que raiva! Ninguém entende de poesia nessa birosca? Certo, tentei ficar mais calmo, talvez ninguém goste do que escrevo, mas tenho que manter a postura para uma possível réplica, tréplica, quadréplica, ou o escambal!
Saí do computador, pois já estava estressado com a demora dos comentários. Almocei. No mesmo restaurante, com as mesmas garçonetes, o mesmo bife, o mesmo arroz, o mesmo macarrão, a mesma salada. “Será que alguém mais leu o que postei?” – pensava comigo. Aposto que sim, mas ninguém comenta, esse é o problema daquela bodega! Voltei para o trabalho, tremendo um pouco, cansado de correr para chegar antes de terminar o intervalo do almoço. Loguei no orkut. Estava ansioso pelos comentários. Entrei na comunidade com o coração aos pulos. “O que eles teriam achado do meu escrito? Será que eu ia me sagrar dessa vez? Será que eu já poderia começar uma carreira literária?” – pensava eu, já todo animado, ainda mais quando me deparei com aquele trinta e dois do lado direito da tela. Trinta e duas postagens! Ou seja, trinta e dois comentários. Provavelmente eu fora bem aceito. Mas eis que ao abrir o tópico, veio a decepção: transformaram meu post em chat de bate-papo. Pela enésima vez vi isso acontecer, mas nunca pensei que seria tão frustrante, ainda mais sendo com um texto meu.
Elogios como - “Lixo”, “merda” e um tópico cheio de bate papo virtual foi o máximo que consegui arrancar daqueles idiotas. Por um lado até entendia, pois como comentar algo que está além de suas capacidades? Era compreensível. Fiquei curioso e fui verificar outros tópicos. Encontrei um em que havia um poema que mais parecia uma camisinha usada. Começava com uma alusão ao sexo oral e terminava com o ato sacramentado. Tudo descrito nos mínimos detalhes. Fiquei puto. Quem era essa vadia que todos aplaudiam? Se queria dar, que fosse para a cama, fizesse um anúncio nessas páginas de sexo, mas não ali, porra! Fiz um poema falando de rosas e grutas, amores e sabores e enviei para sua caixa de mensagem. Queria sua opinião. Como resposta obtive: — “Caro poeta, se quer poetizar poste no Bar. Me poupe de suas merdas, por sinal, diarréias. Muito ruim teu poema”.
Quem ela pensa que é? Um Bocage afeminado? Fiquei com muita raiva. Entretanto acabei admitindo que tinha sentido certa libido por essa mulher. Coisas da natureza masculina, gostar de tiranas. Mas, uma mulher que chama um poema romântico de merda? Que mulher era essa? E por que isso me excitava tanto? Não conseguia entender. Acabei passando a noite em frente ao computador. Rascunhei vários poemas. Algum iria agradá-la, com certeza. Eu estava entrando no estilo da vaca, putaria. Jamais me vira poetando assim, muito menos punhetando em frente ao PC por uma vagabunda virtual. Depois de prontos os poemas, enviei novamente. E novamente a resposta: — “Caro poeta (punheteiro), mais uma vez peço, poste no Bar. Minha página não é lixeira para que deposite seu esperma. Cuide de seu teclado. Sabia que mesmo um teclado pode engravidar? Hehehehe”. Cheia das ironias a “vagaba”.
As sandálias havaianas vermelhas que eu uso sim me salvam, pois com elas eu posso pensar que não levo o mundo a sério, muito menos o que chamam de medíocre. Todos têm medo do medíocre, essa palavra que parece um escarro na cara, mas eu, com minhas sandalinhas que acentuam meu andar carioca, pensava comigo, "o mundo não tem fundamento, vai andando e não liga muito pros escarros na cara".
E a puta continuava lá, como antes, impávida, a postar aquilo que eu considerava um aviltre ao meu narcisismo. Queria reinar sozinho com minhas letras, sem a intromissão daquela puta de classe. Ainda se fosse puta de quinta e da quinta! Mas não, era uma puta fina, bela, sagaz, estudada, antenada e o que é pior, no fundo, bem no fundo, tinha que admitir; a puta escrevia bem!Imaginava aquela puta devassa declamando seus poemas cheios de libido ao pé do ouvido de seus amantes - todos, um por um, enlouquecidos de tanto prazer, aplaudindo com muito sêmen a breguice daquelas palavras surradas. Aplausos em forma de gozo! Ovacionada, ela seguia seu caminho... insaciável...
Volta e meia reabria meu tópico em busca de um comentário sério, embasado, de quem entendia realmente de Literatura, mas só encontrava conversa, conversa e conversa. Ah! Alguém disse que o poema era muito brega. Grande coisa! O amor é brega, eu sou brega, o mundo é brega. Notei que se formavam algumas panelinhas no bate-papo. Vi que um tal de Roberto havia colocado o link do blog dele, algo que não deveria ser permitido. Fiquei puto de novo, mas ainda não sabia uma forma de responder as críticas sem demonstrar minha raiva. Poderia ser pior. Pensei em aparecer “anônimo”, mas não tinha jeito. Pensei em criar um fake, mas não tinha jeito para isso também. Merda. Ainda tinha que agüentar aquela puta cuspindo aqueles poemas sujos no meu tópico:
Sou puta do mundo e submundo
tenho meu corpo tingido
de gozo e delírio
Sigo sem rumo
um destino maldito
onde minha sina
é servir a homens
e mulheres
com meu corpo e minha libido!

Mas aquilo me dava tesão, me deixava louco. E pensar que aqueles idiotas e sua pseudo-literatura ainda faziam propaganda de uma revista virtual, um ezine ou algo parecido. Quem em sã consciência ia ler algo postado por uma gangue daquela estirpe? E o moderador de merda, nem para me convidar. Eu, um cara cheio de talento, que tinha tudo para entrar na Academia Brasileira de Letras. Decidi que ia deixar um recado bem comovente e provar que eu tinha o dom da escrita.
Ah, mas aquele poema maldito não me saía da cabeça. O poema daquela vagabunda que se intitulava escritora. Isso era coisa do demônio, com certeza. E eu lá na frente do computador que nem um idiota. Duas horas e onze minutos da tarde - Piranha! Maldita! Criatura execrável! Cadela! Por que te quero tanto? – pensava comigo. Fiquei de pau duro. Masturbei-me ali mesmo e acabei sujando o teclado.
Duas horas e dezesseis minutos – Resolvi deixar um recado na página do moderador: “Caro Sr. moderador do Bar do Escritor, quando fui aceito pela sua ilustre pessoa (como doía dizer isso) para fazer parte de sua tão imponente comunidade, não sabia que seria ofendido no que tenho de mais sagrado e precioso, minhas letras. Acho que não é de seu conhecimento que, dentre tão talentosos (ai!) membros, se encontrem infiltrados elementos de má índole que estão ali apenas para bagunçar e ofender pessoas idôneas, como eu. Espero que, como pessoa digna e honesta que é (ui!), tome as devidas providências e expulse meus opressores. Ass: LDD.” Era assim que eu me apresentava.
Depois de dois dias, obtive o seguinte retorno: - “Caro poeta, tudo isso para dizer que não gostou das críticas? Ora, meu senhor, é só não fazer merda que não será criticado. Seu poema é uma titica. Vá lá e faça melhor. Aqui prezamos pela sinceridade de nossos membros, todos respeitáveis literatos em ascensão”. Hehehehe.
Mais uma vez fiquei puto. Sempre odiei ser contrariado. Apesar dos anos, eu continuava sendo uma criança mimada, que não sabia ouvir desaforos, mas tão somente proferi-los. Culpei meus pais por isso. E agora acabo meus dias aqui nesse sanatório, vivendo do passado e maldizendo aqueles que me condenaram ao ostracismo eterno.

Sanatorium dus Ex-Escribas Pisoteadus pela Pseudus-Crítica du Bar du Ex-critor. Amém.
Advertência: Qualquer semelhança com fatos, nomes ou pessoas reais não terá sido mera coincidência. Pois que é baseado em fatos reais. A imagem fala por si só.

Direitos Autorais Reservados a: Me Morte, Meu nome é, Flávia, o Sacerdote e Alessandra.

Plágio é crime previsto por lei.

Um comentário:

tim disse...

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