quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A relação infantil com a morte

Triste de se ler, triste de comentar, mas real e corriqueira:


1° Ato

-Nossa. Ele parece dormir.
-Ele dorme. Mas o sono eterno.
-Mas eu queria vê-lo abrir os olhos.
-Já lhe expliquei que isso não é possível.
-Por isso é triste. Nunca mais falar com ele, é muito ruim.

2° Ato

-Caramba! Como o rosto dele ta feio. Branco, inchado, frio, parado...Que diferença de quando era vivo!
-Como você sabe se não o conhecia?
-Imagino. Olha lá. Aquela pele não é de um ser vivo.

3° Ato

-Ele ta cheirando mal.
-Sim meu amor. Por isso vamos enterrá-lo logo. Os cães fedem em pouco tempo depois que morrem.
-Ele já fedia antes de morrer.
-Era a febre.
-Tchau amigo.

4° Ato

-Não tem pena dela?
-Ora menino, é só uma vaca.
-Mas tem filhotes, tem o boi que deve estar triste, tem família como a gente.
-Não diga besteira. Você bem que gosta de um bom bife.
-Não gosto mais. Nunca mais vou comer carne!

5° Ato.

-Por que mataram ela?
-Porque são maus. Bandidos são frios. Por isso nunca saia sozinho.
-O que é pedofilia?
-Quem falou sobre isso?
-O papai. Ele disse que o bandido que matou a Bia era pedófilo.
-Ora, esquece isso. Vá dormir, ta na hora.

Ato final

- Mamãe! To aqui. Fala comigo. Por que só chora?
Eu queria que me ouvisse, mas você só chora. Papai...
Diz pra vovó que eu to bem. Não entendi o que aconteceu, mas o Tio ta me esperando.
Mamãe, fica tranqüila. Eu vejo flores. Muitas flores. Quando a chuva passar eu volto e te trago uma rosa vermelha. Do jeito que sei que gosta. Mas pare de chorar.

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