sábado, 15 de setembro de 2007

Naufrági(l)o


De longe vi o barco. Nadei na correnteza, subi, chorei no leme, peguei no choro, dormi.
De perto era o mar que via longe, a terra, bem longe. Era o mar bem perto. O mar e suas batidas, nas pedras, penhascos, fiascos dessa vida que o mar enterra.
De longe ouvi o som, Sereia, na areia, no tom. Senti o seu feitiço, o viço, canção.

Nas ondas do mar,
Nos sonhos do céu,
Navegar bem longe,
Te levar bem fundo,
Para o meu lugar,
Te roubar do barco,
Mesmo sem ser roubo
Pois meu canto encanta o mundo.

E o mar bateu na pedra. E a pedra bateu no mar. E os dois no peito meu, conquistando o mundo e os olhos teus.
E a dor se fez ao som da batida, pois quando o mar bateu naquela pedra, foi a vida que fez dela o sentido da dor doída. E a pedra se abriu em ferida, mais que guerra, fez sua partida, levou os olhos meus em vida.

Me Morte
(foto de André Viegas)

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